segunda-feira, 8 de abril de 2013

Le fond de l'air effraie*


Em uma pequena casa do interior, um jovem encontra uma mensagem de um náufrago dentro de um poço d'água. Philémon, personagem-título da principal série de quadrinhos do genial Fred, não segue os conselhos de seu asno de estimação e se deixa levar pela curiosidade - que o leva a uma terra fantástica. 

Philémon e o evento que desencadeou suas aventuras
Dois sóis, árvores de garrafas, centauros, casebres que se tornam mansões (mas apenas se você regá-las corretamente) e um velhote invariavelmente insatisfeito são apenas uns dos elementos inusitados do universo fantástico que Philémon descobre. Mas diferentemente de Oz, da Terra do Nunca ou do País das Maravilhas, qualquer um de nós pode abrir um atlas e localizar a fantástica ilha em que Philémon foi parar - a letra A do Oceano Atlântico.

Duas sombras, dois sóis
"A ilha não tem a forma de um A, ela é o A!"

Com desenhos psicodélicos e fascinantes que ultrapassam as barreiras dos quadrinhos de dimensões variadas (lembrando a série Little Nemo in Slumberland de Winsor McCay) e frases que dizem tudo - quando provavelmente não querem dizer nada - Fred nos envolve nas aventuras de Philémon pelas letras do alfabeto e sua realidade paralela.

Chacun sait qu'il n'a qu'un "O" sur l'eau de l'Océan

Como todo bom quadrinista francês, Fred também se utiliza de trocadilhos para tornar seus textos mais interessantes. O mais marcante, certamente, são as versões da frase "Le fond de l'air est frais" (traduzindo literalmente seria "o fundo do ar está frio"), comentário sobre o clima que se tornou o arquétipo da expressão que dizemos quando não há nada a dizer. Fred gostava tanto dessa expressão que, além de torná-la uma citação corrente da série de Philémon, também a usou como inspiração e título para uma outra bande dessinée e para uma música (!) gravada por Jacques Du Tronc.



O saudoso Fred acabara de lançar o último volume da série (Le train où vont les choses) quando nos deixou na terça-feira passada. De autor rejeitado e incompreendido para vencedor do Grande Prêmio da Cidade de Angoulême (provavelmente principal menção do mundo da BD), Fred intercalava o humor com um certo tom de melancolia, sendo justamente considerado um poeta dos quadrinhos. Vai deixar saudades.

*Tradução literal: "o fundo do ar assusta"

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